segunda-feira, junho 27, 2005

espaço

Tem ar e silêncio ocupando a sala.
Não podemos entrar aqui se um de nós não inventar rápido uma palavra.
Ou então se você não ocupar o lugar desse ar parado.
Tem muito ar entre nós.
E ele se densifica porque os segundos se alongam e tuas palavras não vêm.
Fotografia.
Penso no laboratório.
Enquanto a imagem surge, dissociada num líquido, eu fujo .
Para um lugar onde a água me envolve e cobre até meus últimos fios de cabelo...
É... uma imagem que se dissocia...
Onde estávamos?
Numa sala cheia.
De silêncio e ar.
Tomo o ar – engolir ar quebra o silêncio
Meus lábios se encostam e produzem ruído que é quase uma poluição para esta sala.
Mas você está falando? Por que? O que? Com quem?
Tem pessoas aqui!
Por onde entraram? Não vi...
Estão ocupando o silêncio, inventando borburinhos novos, olhando pra você...
Vamos sair daqui.
Vamos surgir na foto.

sábado, junho 25, 2005

gotejar

uma gota de nanquim
é uma condensação de lágrimas

sexta-feira, junho 24, 2005

Enquanto tento Fotografar o Mar...

Num conto chamado “As cartas perdidas” de Milan Kundera (1978), Tamina, personagem principal, tenta recuperar cadernos onde havia juntado cartas trocadas com o marido, já falecido, e anotações feitas acerca dos dois, durante os onze anos que viveram juntos. Tamina fazia um exercício diário para não deixar que o passado empalidecesse: “Fazia reviver a linha de seu nariz, de seu queixo, e constatava todo dia com espanto que o esboço imaginário apresentava novos pontos discutíveis em que a memória que desenhava tinha dúvidas”.(p. 82). O narrador continua contando que ele (seu marido) havia pedido-lhe que escrevesse este diário acerca do desenrolar da vida dos dois, mas: “Ela o amava demais para poder admitir que aquilo que qualificava de inesquecível pudesse ser esquecido” (p.82), mas agora, Tamina ia a busca deste diário que tanto evitou escrever...
Ontem de madrugada morreu um grande amigo meu. Abri meus olhos e vi uma pintura que ele havia feito para minha família. Neste quadro um homem saia das águas do(r) mar. Mas não era um homem qualquer, era o homem-mar. Mar-celo é seu nome.
Marcelo achava que grãos, árvores, animaizinhos. mar e homens eram todos iguais. Sorria de canto de boca e freqüentava o templo Budista. Uma vez trouxe-me músicas de lá.
É difícil escrever sobre ele. Mas hoje quando acordei não poderia escrever sobre outra coisa, porque tomou-me o medo de esquecê-lo...
Marcelo inscreveu em mim.
E o mundo poderia herdá-lo. Talvez ilusão, tentativa de artista tentar prendê-lo, mas amanhã quando eu acordar estará escrito na minha parede: o homem-mar... MARCELO...

quarta-feira, junho 22, 2005

...

silêncio
que pede sapatos
barulhentos

quê

nestes tantos
barulhinhos
sapatos quietos
eis o silêncio

quarta-feira, junho 08, 2005

é assim:

perder.palavras.
é isso o medo.
a gente sabe que são inúteis e que terminam.
mas a gente tem medo mesmo assim.
medo do que não tem.

segunda-feira, junho 06, 2005

?

Qual o inverso
de dentro?

quinta-feira, junho 02, 2005

título

na verdade, o caminho é sempre sem verso

não sei não

caminho hoje tá sem verso
o in tá sem
mas pode ser que sim...