domingo, julho 16, 2006

de fato, impessoal*

Futebol ao vivo.
um tanto impessoal.
jogadores são números
e todos nós e todos eles
filhos da puta.

*olha o que que um comum qualquer não faz com a gente... obrigada pela experiência...

terça-feira, julho 11, 2006

um lugar

primeiro vieram aquelas coisinhas
que para ela eram variações
e para ele, apropriações.
e teve o cavalo, a foto da ressaca, a própria madrugada.
para ela o inesperado, para ele, programado.

mas nem era tão programado assim.
porque fazia parte do programa a distração.
e num esquecimento desses dele
ela pôde se lembrar que viajar
distraído os fez esbarrar em coisinhas.

variadas e apropriadas.
na medida exata do desassossego.

segunda-feira, julho 10, 2006

porcarias

fico com o deserto então.
porque de certo, nada.
(nado no deserto)

só (nem ao menos Deus por perto)

se chegar é parar de ir embora,
fugir é não parar de ir embora nunca.
em tempos de incerteza,
fico com a fuga.

só (nem ao menos Deus por perto)

se chegar é parar de ir embora,
fugir é não parar de ir embora nunca.
em tempos de incerteza,
fico com a fuga.

quarta-feira, julho 05, 2006

sera(fim)?

dilatação
e fuga.
o sangue corre.
banho de água fria.
é bom para aquecer.

Ovelhas Negras de Mim *

Ela disse que a sala se enche de ar quando eu entro. Não é vazio, é ar. Ficamos sempre entre o ser e o não-ser (e quando o ser existe, tenho enxaqueca e quando o não-ser permanece não sinto os dias. Nem as noites). Ela lembrou de elfos, ninfas... Seres que são não-seres. E eu vinha pensando nos espirais da cidade antes de encontrar-me com ela. Onde eles estão? Para onde levam? Eis os usuários dos espirais da cidade.

Vejo um suicida que procura um espiral ao vento. E ele é como uma poesia que não foi publicada. Como aquela poesia que foi sendo guardada para outros tempos, ou então que não se encaixou em livro algum, em carta alguma, em lugar nenhum. Disse alguém então: “Por que publicar o que não presta? Porque o que presta também não presta. Além do mais, o que obviamente não presta sempre me interessou muito. Gosto do modo carinhoso do inacabado, daquilo que desajeitadamente tenta um pequeno vôo e cai sem graça no chão”.
Penso no suicida e a vida dele (que não deixa de sê-lo) como poesia não publicada. Dessa forma respondo à mulher que berra, sufocada com a decisão do suicida, decisão impossível para ela: “esse louco quer é aparecer!”...
Dessa forma, nesse pequeno vôo, sutilmente a vida-poesia torna-se publicável... Sua vida inacabada tem um gosto carinhoso – a sua existência é, simplesmente, uma tentativa, meio sem jeito, de voar – de ser ser, e de estar. Cairá “sem graça no chão”, como pena, papel amassado, balão furado... Mas será poesia-tentativa.
“Ovelhas Negras de mim querem encontrar os espirais da cidade. Onde estão?” Ouço os gritos de um homem. E assim vejo uma folha de caderno com rabiscos antigos voar desajeitadamente do 27o andar até cair, docemente, na superfície acimentada do submundo urbano.
Sopra o vento. Tem muito ar entre nós. Não é vazio. É ar. Só.


* o Caio faz isso com a gente.

sim e não

Se veste
e se investe
mas nada tece
nada tece...

se veste
e se reveste
mas não foge
da peste...

se veste
e se despe
se veste
e se despe...