terça-feira, novembro 16, 2010

domingo, novembro 14, 2010

sábado, novembro 13, 2010

sexta-feira, novembro 12, 2010

quinta-feira, novembro 11, 2010

ladainha: do registro

A cabeça torna-se feita de confusões. Ao se permitir uma sentença em meio a tantas ainda confusas, se permite, como que inseparavelmente (pague um leve dois) a própria sentença já impossível de ser resolvida. A cada nova possibilidade inventada para a dor de sentir-se irrisório, uma nova e mais forte impossibilidade.

O tempo passou. Hoje mesmo já seria tarde para fazer uma escolha que mudasse todos os rumos .

Estar em outra cidade também não seria uma saída. Já é tarde para isso. Depois de um certo tempo as apostas devem contar com o que é propício. E não é nada propício sair de casa uma hora dessas. Nesta altura, começar do zero é o mesmo que desistir.

Nem escrever parece digno.

Nem desistir.

É uma ladainha daquelas.

Um homem fede a álcool. Ele entra no trem e exige seu lugar. Um jovem sai, o homem senta. Na sua nebulosidade ele parece velho. Ele tem muitas rugas, mas tirando a nebulosidade dos olhos que o olham, ele não é tão velho. Ele tem as mãos cruzadas uma sobre a outra. Com o dedão esquerdo acaricia o dedão direito. Um grande talho meio seco, sem sangue, sem cor, provavelmente sem dor. A secura arranca não se sabe da onde meia dúzia de lágrimas.

Cada um dá o que tem pro mundo.

Pensamentos não deixam rastros nenhum. Por mais que se tente. Nem borra, nem sussurro.

Nem tentativas palavras.

quarta-feira, novembro 10, 2010

existe
de um vazio desassistido
onde nada cabe
ainda que a fumaça do vizinho,
madrugueira e periódica
insista

"A ausência de provas físicas" Gonçalo Tavares

"Como era deselegante não ver nada com tantas coisas para serem vistas, o senhor Juarroz ficava em casa, à janela, a ver as coisas do mundo.

Como era possível dentro de casa ouvir o silêncio, o senhor Juarroz abria a janela para entrarem ruídos, pois, no fundo, detestava o silêncio.

Como as mãos eram, acima de tudo, máquinas de tocar nas coisas, o senhor Juarroz, quando ficava em casa em frente à janela aberta, gostava de encostar a sua mão esquerda no vidro.

Como uma das características mais entusiasmantes do ser humano era a capacidade de cheirar e saborear, o senhor Juarroz, quando ficava em casa com a janela aberta para ver e ouvir, com a mão direita encostada ao vidro para tocar, gostava ainda de beber um café bem quente e de cheiro intenso.

Como gostava muito de pensar o senhor Juarroz, quando ficava em casa, com a janela aberta, e com a mão esquerda encostada ao vidro, a beber um café quente, perdia-se nos seus pensamentos e, assim, quando a sua esposa lhe perguntava o que vira e ouvira da janela, o senhor Juarroz não sabia o que responder porque não se lembrava de nada. E apenas uma chávena de café vazia provava algo: ele bebera, de fato, o café.

O senhor Juarroz pensava muitas vezes que o mundo seria mais físico se as coisas vistas ou ouvidas também deixassem, no fim, uma chávena de café vazia, de modo a provar à mulher que não perdia tempo, como ela o acusava. Mas depois de pensar nada se alterou, pois os pensamentos também não deixavam provas. Apenas o café, apenas o café – murmurava”.

TAVARES, Gonçalo. O senhor Juarroz. Pg 29 e 30.

Sob (re) sereno - livro de artista - pagina 1, 2 e 3



carimbo e nanquim sobre papel vegetal (14,5 x 10,5 cm)

continua...
(se quiser receber por correio um exemplar, mande email para mayraredin@gmail.com)

sábado, novembro 06, 2010