Preâmbulo
Os cachorros fogem da tentação do impossível e encontram sempre uma impossibilidade repleta de pequenos possíveis. Na dúvida, comece pelas coincidências. O resto acontece.
Sobre vargas llosa poderia se chamar a vagarosa. Anos que quero. E agora? Por onde começar? Ou por onde continuar? De onde parei. Numa palestra sobre escrita, quem falou o nome Vargas Llosa? Lembro só que anotei, e se anotei, eu queria. Vou atrás de onde. Em quais anotações procurar? As de antes do ano passado com certeza. Do ano retrasado para trás. Assim não vai dar. A vagarosa. Deixou o tempo passar e ficou só o nome Vargas Llosa ecoando, ecoando, ecoando, vagarosa. Melhor continuar indo ao que interessa. Um livro dele. Não importa como o quis, mas como farei para tê-lo. Um livro inteiro devo ler. Essa é a regra que acabo de criar. E é assim que vou sabê-lo. Assim e somente assim. Por este único livro. Página por página. Este será Vargas Llosa para mim, a vagarosa. Agora é fácil. Nem tão fácil. Não, nada fácil. Que único livro será esse. Penso. Não conheço nenhum. Conheço, deve estar anotado, mas já tirei do caminho a possibilidade da tentativa de relembrar algo anotado. Uma vagarosa demora o suficiente para esquecer o que estava a procurar. Estratégia do rápido, para não perder o fio da meada, para não perder as vagas horas: Vargas Llosa mais perto é o da rede. E lá diz: ingressar. Posso entrar? Como escolher a obra sem abrir? Como entrar? Pelo nome. O nome que me chama: “a cidade e os cachorros”, cachorro combina com Vagarosa. Cachorro é vagaroso quando o interesse é preambular. Até para arrimar-se vai que vai, cheirando, arrastando, encostando. Talvez goste mais do preâmbulo que do deambular. Mas vamos lá que a regra foi adentrar, e disso de focar, cachorro também sabe e vagarosos fingem não saber mas, se você olhar direito, os vagarosos sabem bastante sobre caminhar. Claro que muito mais que sobre chegar. E nessa de caminho devagar querendo despistar, foge da regra e de repente decide espiar, como qualquer um que vai devagar espia, ou justamente vai devagar para espiar, e como um canino farejante espiante, acho um ensaio que vagarosamente faz abandonar, ou seja, desarrimar dos Cachorros e me leva para “La tentacion de lo imposible”. Pronto. Devagar fugiu da regra de um único Vargas Llosa, deixou os cachorros para trás (e talvez vagarosa tenha corrido um pouco e se adiantado para fugir dos cachorros) e o que encontrou? O preâmbulo do impossível: a tentação. A tentação é a carona dos que caminham devagar. Essa leva. Arrasta. Arrima por arrebatamento. É esse Vargas Llosa que eu quero. Até onde ele pode me levar nessa velocidade? É ensaio, leio. Aí não posso arrimar-me. Não por agora. E o nome já dizia dessa impossibilidade. Acho que gosto necessariamente em primeiro lugar dos preâmbulos, as tentações, que me jogam pra fora novamente da carona. De novo caminhar, de novo esticar o braço, novamente arriscar. Arriscar arrimar. Neste risco decido: o livro que encontrar na livraria mais próxima: “travessuras da menina má”. Gosto quando no título encontro qualquer coisa de meu. Não são as travessuras, neste caso> mas o Ma. Um apelido. Que é um nome. O meu nome pode ser o ponto de partida para uma pesquisa sobre qualquer coisa, já dizia o cineasta Alain Berliner. Convenceu-me. Viro o livro. Na contracapa o nome da personagem: lilly. Outro nome meu. É este aqui. Quanto tempo levarei para conhecer o meu Vargas Llosa?
De vagarosa para Vargas Llosa, foi-se uma folha.
4 comentários:
"A tentação é a carona dos que caminham devagar". Achei lindo isso! Beijo pra você!
lindo! amei mesmo...
a tentação...essa leva, arrasta. é muito bom isso.
beijos
maya
tenho os dois - "a cidade e os cachorros" e "as travessuras da menina má".
se quiseres...
(não te arrependerás).
fábio
brigada gente, Vargas Llosa é totalmente inesperado... Fabio, quero sim "a cidade e os cachorros", o da menina ma terminei essa semana, incrivel...
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