Num conto chamado “As cartas perdidas” de Milan Kundera (1978), Tamina, personagem principal, tenta recuperar cadernos onde havia juntado cartas trocadas com o marido, já falecido, e anotações feitas acerca dos dois, durante os onze anos que viveram juntos. Tamina fazia um exercício diário para não deixar que o passado empalidecesse: “Fazia reviver a linha de seu nariz, de seu queixo, e constatava todo dia com espanto que o esboço imaginário apresentava novos pontos discutíveis em que a memória que desenhava tinha dúvidas”.(p. 82). O narrador continua contando que ele (seu marido) havia pedido-lhe que escrevesse este diário acerca do desenrolar da vida dos dois, mas: “Ela o amava demais para poder admitir que aquilo que qualificava de inesquecível pudesse ser esquecido” (p.82), mas agora, Tamina ia a busca deste diário que tanto evitou escrever...
Ontem de madrugada morreu um grande amigo meu. Abri meus olhos e vi uma pintura que ele havia feito para minha família. Neste quadro um homem saia das águas do(r) mar. Mas não era um homem qualquer, era o homem-mar. Mar-celo é seu nome.
Marcelo achava que grãos, árvores, animaizinhos. mar e homens eram todos iguais. Sorria de canto de boca e freqüentava o templo Budista. Uma vez trouxe-me músicas de lá.
É difícil escrever sobre ele. Mas hoje quando acordei não poderia escrever sobre outra coisa, porque tomou-me o medo de esquecê-lo...
Marcelo inscreveu em mim.
E o mundo poderia herdá-lo. Talvez ilusão, tentativa de artista tentar prendê-lo, mas amanhã quando eu acordar estará escrito na minha parede: o homem-mar... MARCELO...
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário