quinta-feira, novembro 11, 2010

ladainha: do registro

A cabeça torna-se feita de confusões. Ao se permitir uma sentença em meio a tantas ainda confusas, se permite, como que inseparavelmente (pague um leve dois) a própria sentença já impossível de ser resolvida. A cada nova possibilidade inventada para a dor de sentir-se irrisório, uma nova e mais forte impossibilidade.

O tempo passou. Hoje mesmo já seria tarde para fazer uma escolha que mudasse todos os rumos .

Estar em outra cidade também não seria uma saída. Já é tarde para isso. Depois de um certo tempo as apostas devem contar com o que é propício. E não é nada propício sair de casa uma hora dessas. Nesta altura, começar do zero é o mesmo que desistir.

Nem escrever parece digno.

Nem desistir.

É uma ladainha daquelas.

Um homem fede a álcool. Ele entra no trem e exige seu lugar. Um jovem sai, o homem senta. Na sua nebulosidade ele parece velho. Ele tem muitas rugas, mas tirando a nebulosidade dos olhos que o olham, ele não é tão velho. Ele tem as mãos cruzadas uma sobre a outra. Com o dedão esquerdo acaricia o dedão direito. Um grande talho meio seco, sem sangue, sem cor, provavelmente sem dor. A secura arranca não se sabe da onde meia dúzia de lágrimas.

Cada um dá o que tem pro mundo.

Pensamentos não deixam rastros nenhum. Por mais que se tente. Nem borra, nem sussurro.

Nem tentativas palavras.

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